quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Hominidae

Concebi a performance originalmente como uma provocação social, a partir da ocupação de árvores em centros urbanos, por cerca de oito horas, causando cisões efêmeras no cotidiano dos passantes.

Depois de realizar a ação em diferentes cidades e contextos percebo que, a cada experiência, novas dobras são descobertas a partir dos atravessamentos nos campos da micropolítica, das relações sociais, das singularidades geoculturais, da sensorialidade, da poética e das subjetividades.

Na residência artística "Interações Florestais" em Terra Una - Serra da Mantiqueira, a proposta migrou para mata. Ocupei três árvores, sob a ausência do conflito performer-público, o que possibilitou o desdobramento do trabalho em novas relações entre o corpo homem, o corpo árvore e o ambiente.

Como forma de dilatar e compartilhar tais experiências, criei este blog exclusivamente para compartilhar notações,imagens e reflexões sobre o trabalho, com o desejo de realizá-lo em várias cidades e situações, afim de vivenciar percepções e parâmetros numa espécie de estudo etnográfico, sensorial e estético.




foto: Roberto G Delduque
São Paulo-SP


foto: Roberto G Delduque
São Paulo-SP


foto: Roberto G Delduque
São Paulo-SP


foto: Thiago Carvalho
Uberlândia-MG


foto: Thiago Carvalho
Uberlândia-MG


foto: Domingos Guimaraens
Serra da Mantiqueira-MG


foto: Maria Teresa Ponce
Serra da Mantiqueira-MG


foto: Maria Teresa Ponce
Serra da Mantiqueira-MG

Curitiba - relato de performance

A primeira vez que fiz a performance foi em maio de 2009, na cidade de Curitiba - PR. Eu usava uma camiseta vermelha e alguns fios brancos no cabelo, opções que deixei de usar nas experiências seguintes. Hoje uso camiseta branca e nenhum adereço.

Tentei a princípio, fazer a performance na “Praça do Homem Nú” no centro da cidade, mas quando estava quase terminando de tramar os fios, chegou a polícia e me mandou tirar tudo e descer. Me ameaçou com “voz de prisão”, caso em me recusasse. Decidi acatar.

Procurei a prefeitura para providenciar uma autorização. Descobri que teria que ter o aval da secretaria de urbanismo (direito de uso do solo) e secretaria do meio ambiente. O procedimento burocrático foi um caso a parte. Descobri que a performance já havia começado naquele trâmite. Era a negociação. Muitos telefonemas, apresentação de projeto escrito, material visual e tudo mais. Ninguém sabia o que fazer comigo. Eu pressionava a cada dia. Tinha pressa e impaciência com a velocidade da máquina pública. Ouvi deles, que não se sentiam competentes para dar a autorização. Estavam confusos diante da novidade do requerimento. O funcionário mencionou que eu não poderia fazer, pois era ilegal. Busquei a legislação municipal referente as árvores urbanas e encontrei as seguintes proibições: cortar, ou danificar árvores, e fixar cartazes ou faixas. Não era o meu caso, então não havia impedimentos. Os funcionários não podiam argumentar o não. Sob pressão, cederam a autorização.

Realizei a performance na Praça Rui Barbosa num canteiro, próximo a um ponto de ônibus. Um videomaker, o artista Ângelo Luz, aparecia eventualmente para fazer alguns registros, mantendo uma certa distância. Na maior parte do tempo eu estava só, o que considero hoje loucura ou ingenuidade. O contexto era diverso e muitas vezes pesado. A provocação da ação tinha mais efeito do que eu esperava.

Muitas pessoas interagiram querendo falar comigo. Saber o que eu fazia ali. Se aproximavam, faziam perguntas e afirmações: “ É um protesto, moço? Sobre o que? Para que serve isso? O que tá fazendo ai brother? É artesanato? Arte contemporânea? Você acha que é bonito ser feio? Dá um sorriso para eu tirar uma foto?”
Eu permanecia na ocupação, sem falar e muitas vezes sem me mover da posição em que estava.

Algumas reações eram de empatia. Recebia um sorriso ou outro, percebia pessoas que se aproximavam com curiosodade. Uma mulher disse que o trabalho era bonito. As crianças em geral se empolgavam.

Nos momentos em que o videomaker estava presente, ele era procurado por algumas pessoas que o indagava e recebiam gentilmente, respostas curtas; algo como: “é um trabalho de arte”. Algumas davam seus relatos para a câmera. ( O vídeo pode ser visto na sessão Vídeos Urbanos, deste blog.)

No passar do dia surgiram reações curiosas, a maioria registradas apenas pela escrita.

Um dos momentos que vale contar foi quando eu me posicionei de cabeça para baixo com o objetivo de inverter a energia e fluxo do corpo. Um homem que estava embaixo observando, caiu desmaiado logo na sequência. Não sei o quanto isto pode ou não estar relacionado a ação, mas acredito nas possibilidades de conexões e trocas energéticas entre eu, a árvore e as pessoas que passam com seus diferentes níveis de sensibilidade.

Um grupo de adolescentes parou ali por um tempo. Queriam que eu fizesse algo, qualquer coisa que me tirasse daquele estado da performance. Uma menina dizia: “ desce amor, eu volto pra você, não precisa ficar assim”. Um homem de terno e gravata permaneceu embaixo da árvore por mais de meia hora, mudava de posição, conversava com as pessoas. Tentava falar comigo, e dizia: “isso é arte? É coisa de gente louca, né?”. Uma senhora reclamou que eu estava sujando a árvore. Outra, pedia que eu descesse. Dizia que eu queria suicidar. Que eu não devia fazer isso. Que eu parecia Jesus Cristo.

Um programa jornalístico da Rede Record – O Ric Notícias, fazia uma matéria por ali. O jornalista veio com um sorrisão no rosto, me pedindo uma entrevista, disse que me anunciaria no jornal ao vivo. Eu olhava para ele e não dizia nada. Desmanchou o sorriso e foi embora. O Ângelo (câmera) chegou por ali e o jornalista perguntou a ele o que eu fazia e quem eu era. Fizeram duas chamadas no jornal. A última dizia que as pessoas ali em baixo estavam querendo me linchar, por que eu parecia Judas. Finalizou dizendo que eu era o Ricardo Macaco Alvarenga.

No passar do dia, experienciei uma séria de atitudes violentas reativas ao trabalho. Um cara ameaçou subir na árvore e roubar as bananas. Um mendigo tentou subir, mas não conseguiu. Chutava a árvore e dizia que me derrubaria. Um outro me jogou uma casca de fruta, disse que eu deveria me enforcar. Fez um gesto de me dar um tiro. Um cara, aparentemente de classe média, cerca de 28 anos, passou com um amigo e me ameaçou de morte. Vinha ao longe dizendo: Isso em Curitiba não pode! Será que eu consigo acertar uma pedra há 50 metros? Cuidado que amanhã você pode estar na tribuna, heim? (jornal onde aparecem as notícias criminais). Me senti particularmente abalado por esta ameaça. Na época a cidade passava por uma onda de violência e crimes de grupos neonazistas.


O trabalho surgiu de uma inquietação comportamental. Uma tentativa de deslocamento temporário da ordem social por meio desta ocupação incomum, com potencial de levantar questões em diferentes campos. Existenciais, patrimoniais, ambientais, culturais, políticos, sensoriais. Provocações plantadas num terreno de urgências, a serem pensadas no âmbito das cidades.

Fico pensando nestes relatos como sintomas sócio – culturais. O que eles podem revelar de cada cidade? Como nós artistas podemos misturar o material decantado no fundo da história da formação das cidades e da civilidade? Como podemos contribuir para instigar novas lógicas, novas formas de interação, novas possibilidades de relações humanas?

Sigo investigando, agindo e resistindo.

Uberlândia - relato de performance

Em julho de 2009 realizei a performance em Uberlândia – MG, onde fui contemplado no “Arte Urbana”. Um edital municipal de artes visuais, que seleciona anualmente cinco trabalhos a seres feitos nos espaços da cidade.

A árvore, um ipê rosa que ainda mantinha as últimas flores da estação. Ela fica num calçadão do centro, entre as grades do fórum e um ponto de ônibus, em meio a bancos de cimento espalhados e outras duas árvores. É um lugar de fluxo para alguns, e de espera para outros.

A cobertura do trabalho na mídia é um caso a se detalhar nesta experiência. Houve um grande interesse em noticiar. Um pouco por estar vinculado a um edital municipal, outro tanto por um interesse sintomático em tornar pública esta ação considerada irreverente. A notícia saiu desde emissoras de rádio AM ao jornal da noite da Globo local, com direito a chamadas de efeito durante o intervalo: “Artista pára o centro da cidade”. Para minha surpresa, depois de exibirem a matéria no jornal, ainda fizeram uma chamada no intervalo da novela “Caminho das Índias”, garantindo que a notícia chegasse ao maior número de pessoas possíveis.

Da rede local do SBT, haviam duas equipes, de programas diferentes marcando presença. Uma delas, fez comigo uma entrevista antes da performance. O jornal impresso, colocou uma matéria na capa do caderno Revista no dia seguinte.

Não sei exatamente o que gerou tanto interesse por estas mídias de massa, se era pelo trabalho gerar curiosidade e poder ser mostrado como uma excentricidade, ou se era uma forma de dizer ao povo: não se assustem, é só um artista. Está tudo sobre controle.

Para mim, o mais interessante no fato, foi a oportunidade de “negar”a mídia. Os repórteres e suas equipes foram lá querendo fazer entrevista e eu não falava com eles, não saia do lugar. O silêncio faz parte da performance. Ficava ali olhando o “misancene”. Me divertindo com as situações, como a da repórter da Globo local que subiu num banco de cimento, para ser filmada com o microfone na mão, apontado para mim.

Um dos idealizadores e responsável pelo edital, o artista plástico João Virmondes acompanhou a performance durante quase todo o tempo. Ficava ali sentado em um dos bancos do calçadão. Para quem olhava com mais atenção, era fácil reconhecer que ele tinha alguma relação com o acontecimento. A situação acabou criando uma ambiente de comunicação mediada, entre o trabalho e o público passante. Muitas pessoas iam até ele e perguntava o que era aquilo. Ele explicava que era um trabalho de arte, que fazia parte de um edital municipal, e quando as pessoas seguiam com as perguntas ele ia respondendo com outras perguntas, provocando reflexões, que se configuraram numa ação didática de aproximação entre arte e público. Reconfigurações do ambiente na performance.

A maioria dos passantes, não paravam no local, passavam direto. Algumas olhavam, sorriam, apontavam, ignoravam. Outras tentavam falar comigo. Vi um advogado na porta do fórum que esbravejava e gesticulava apontando para mim, parecia realmente incomodado. A cada ônibus que parava, muitas cabeças se moviam para me ver e comentar. Um senhor, na entrevista à TV disse que eu “tava era muito forgado”. Um garoto disse que eu estava chique. Uma moça, depois de ficar ali por um bom tempo tentando falar comigo, e insistindo que eu descesse, se despediu dizendo: “moço, seu trabalho é muito generoso”. Uma senhora disse, numa entrevista, que ela subiria comigo se não tivesse problemas nas costas, “porque nós devemos estar unidos, pela paz.”

Nos dias seguintes haviam rastros da performance nos comentários sobre “o homem da árvore.” Um prolongamento da ação pela oralidade, que durou algum tempo.

Vale dar o contexto da cidade. Médio porte, tradição política ruralista, população superior a 650 mil habitantes. Se destaca no setor de logística e distribuição de produtos. Tem uma universidade federal que oferece hoje mais de 50 cursos.

...

Cada vez que faço o “hominidae”, muitas variáveis se configuram para dar forma a experiência. A cidade, o local, o contexto, o público, o clima, meu corpo. Certamente existem fatores culturas que já predispõe um “sotaque” nas relações sociais. As cidades tem suas especificidades.

Em Uberlândia, certamente a presença da mídia, dos videomakers e do fotógrafo que contratei, assim como os noticiários que foram dados ao longo do dia, interferiram na ambiência da performance.

Se por um lado, isto possa diluir o potencial provocador no contato ao vivo, por outro, aumentou o alcance da ação. ‘Um homem, passou o dia em cima da árvore, no centro da cidade.’

Poderá está efêmera cisão na paisagem, contribuir na complexificação da cidade?
É uma pergunta para o vento do cerrado, que responde soprando necessidades.


foto: Thiago Carvalho


foto: Thiago Carvalho


foto: Thiago Carvalho

São Paulo - relato de performance

Em agosto deste ano de 2010, fiz a performance no centro de São Paulo, com a parceria de produção do Núcleo Corpo Rastreado, no contexto da residência artística ‘Entorno’.

A árvore fica numa das esquinas da Praça da República, num espaço dedicado exclusivamente à passagem. Não há bancos, ou qualquer outra coisa que convide alguém a parar por ali. É um calçamento entre o prédio da secretaria de educação do estado e uma entrada da estação de metrô, em frente há uma bifurcação de ruas.

Eu estava camuflado nesta paisagem urbana. Um homem em cima de uma árvore tramada de fios brancos. Na proporção da cidade, a ação era mais uma informação entre tantas, mais uma forma de ocupação do espaço público, tão amplamente habitado por sem – casas; mais uma intervenção artística no centro da metrópole.

Nas sete horas de permanência, acompanhei camadas de fluxos de pessoas, ônibus e carros.

A maioria das pessoas passava direto. Muitas ignoravam a ação. Outras olhavam de canto de olho. Algumas paravam, fotografavam, comentavam entre si. Via pessoas que reagiam corporalmente, com surpresa, confusão, curiosidade. Cada pessoa que notava a performance se via diante de uma decisão: olhar ou não, disfarçar, ignorar, interagir. Muitas pessoas não viam. A ação era sutil no contexto. Um cara passou resmungando, parou na esquina e ficou me olhando de cara feia. Foi a única reação de incômodo declarado que percebi. A recorrência mais comum era sorrisos, para mim, ou de mim. Essa reação foi o que mais me interessou nesta experiência, pois foi a primeira vez que aconteceu assim. Eu estava colhendo sorrisos, e me alimentando deles.

Percebi o trabalho como um suspiro naquele espaço de pés apressados. Uma poesia estética, aberta a interpretações. “mais um louco na cidade”, “arte contemporânea”, “protesto”, “ uma moradia”... coisas que ouvi. Seja como for, havia sutileza na reação da cidade que não me hostilizava, experiência que me deu um contraponto com o que aconteceu em Curitiba-PR. (relato no texto Hominidae em Curitiba).

Pela primeira vez, senti vontade de romper o silêncio na proposição do trabalho. Algumas pessoas pararam e perguntaram o que eu fazia ali. Eu fiquei olhando para elas, garantindo um canal de comunicação, mas não respondi em palavras. Mentalmente eu respondia perguntando: o que vocês fazem ai embaixo? Teria sido instigante saber, de cima da árvore, o que as pessoas faziam ali embaixo, atravessando uma esquina no centro da sexta cidade mais populosa do mundo.

Esta é uma idéia possível de ser incorporada em outras ocupações, que certamente cria novas dobras na performance.

Durante a ação, enquanto ouvia música em um Ipod, como faço em alguns momentos, fui percebendo conexões estética com as pessoas que passavam com seus fones. Era uma cena muito recorrente, o que me estimulou a ficar horas ouvindo música, vivenciando a interferência deste elemento sonoro na composição de ambientes de percepção.

Ao final da permanência, não tirei os fios da árvore. Soube que seguiam lá três semanas depois, e talvez ainda estejam. Em Curitiba e Uberlândia, os fios da parte baixa do tronco não duraram até o dia seguinte, foram cortados e deixados no chão.

Acredito que os relatos desta performance forneça alguns Indícios das particularidades dos processos culturais, sociais e políticos e nas formas de ocupação e volume de cada cidade. Evidenciando algumas diferenças regionais neste país continental.

Realmente. Em cada árvore, em cada cidade, ou em cada vez, uma experiência se dará organizada a partir da coexistência de uma gama de variáveis.


foto: Roberto G Delduque


foto: Marisol Cordeiro


foto: Roberto G Delduque

VÍDEOS urbanos

Curitiba



Uberlândia



São Paulo

VÍDEOS da mata

Vale do poente



Do outro lado do rio



Vale das samambaias



Sobre os vídeos:

Vale do poente
Está foi a primeira árvore e a única em que fiz a performance duas vezes. É uma linda e forte presença na beira da estrada de terra, que ligava algumas fazendas da região.
O céu aberto deste lugar possibilitava acompanhar todo o movimento do sol na passagem do dia, com direito a um poente privilegiado.
O vídeo feito aqui, contempla a performance em quatro de suas oito horas. Ele extrapola sua função de registro, sustentando - se na linguagem audiovisual com uma bela fotografia e dinâmicos efeitos da passagem de luz, evidenciados pela velocidade acelerada na edição.

Do outro lado do rio e Vale das samamabaias
Composições audiovisuais feitas a partir de ensaios fotográficos da tramagem dos fios e ocupação de nichos.


Sobre vídeos e possibilidades
A performance é uma experiência temporal e tem sua efemeridade como condição.

Os vídeos feitos a partir de registros da ação, embora possibilitem estruturas narrativas e algumas ressonâncias do que aconteceu, constituem fragmentos de um verbo no passado, que transforma o potencial dinâmico da performance realizada, em visualidades estáveis.

É preciso portanto dicerni-los da ação em si. São produtos de uma outra linguagem, e muitas vezes apenas documentos visuais de uma ação.

Ao longo das experiências com a performance, tenho repensado sobre a importância ou o potencial em se fazer o registro videográficos e como usá-los.

Como sou eu, o editor da maioria dos vídeos e os faço a partir de imagens captadas por outras pessoas, tenho a cada novo arquivo, o desafio em compor com imagens do meu próprio trabalho, feitas pela perspectiva do videomaker. Com exceção de duas situações, uma na mata e outra na cidade, onde optei por captar com câmera parada.

A partir destes exercícios de composição visual-digital, tenho me interessado em transpor o registro, concebendo novas possibilidades de produzir vídeos hominidae, que embora estejam vinculadas a performance, constituam um trabalho a ser pensado sob a ótica do audiovisual.

Hominidae na mata

Depois das experiências urbanas com a performance em Curitiba- PR e Uberlândia – MG, tive a oportunidade de vivenciar outras potencialidades do trabalho na residência artística ‘Interações Florestais’, na ecovila de Terra Una (Serra da Mantiqueira – MG), entre abril e maio deste ano de 2010.

Realizei a performance em três árvores, nos arredores da ecovila. Levei comigo somente frutas e água. Eu tramava os fios, subia pela manhã e descia ao anoitecer, quando a umidade e o frio chegavam sem sobreaviso. Era outono e o inverno da serra já anunciava sua chegada.

As árvores eram de médio porte. Estavam em encostas de morros e tinham, logo abaixo, afluentes de água cristalina, contornados de mata ciliar. Guardavam entre si uma distância de alguns quilômetros em trilha. Eram de espécies diferentes, com as folhas e troncos bem característicos de cada uma. Não saberia identificá-las.

Nomeei os ambientes segundo imagens de afetividade: ‘vale do poente’ onde se pode acompanhar todo o percurso do sol no dia; ‘vale das samambaias’ onde havia um campo de samambaias enormes, que me passavam em altura e se abriam lateralmente em metros; e ‘do outro lado do rio’, cuja a trilha atravessava um dos afluentes.

Cada árvore um ser de peculiaridades. A textura da casca, o tamanho e desenho das folhas, a forma e distribuição do tronco e dos galhos. Variações de uma interessante trama de escolhas, em que cada uma, dentro das possibilidades, decide crescer a seu modo, relacionando-se diretamente com o meio.

As experiências na mata, sob a ausência do conflito performer-público, possibilitaram vivenciar outras camadas da performance, que abriram campo para novas relações entre o corpo homem, o corpo árvore e meio natural.


foto: Domingos Guimaraens
vale do poente


foto: Julio Callado
vale do poente


foto: Domingos Guimaraens
do outro lado do rio


foto: Domingos Guimaraens
do outro lado do rio


foto: Domingos Guimaraens
vale das samambaias